O Motorista de Aplicativo Que Pegou Um Passageiro Sobrenatural
A noite em São Paulo sempre teve um jeito de esconder segredos nas sombras da cidade, mas o que eu não esperava era que a minha rotina, tão monótona e previsível, fosse interrompida por um encontro sobrenatural. Você já parou para pensar no que poderia acontecer durante uma simples corrida de aplicativo? Um movimento aleatório da sua mão, um deslizar no celular, e você pode acabar convidando o desconhecido para entrar na sua vida.
Meu nome é Lucas, e sou motorista de aplicativo. Às vezes, eu me pergunto se a verdadeira aventura não está nos passageiros que pego, mas nas histórias que eles trazem consigo. Naquela noite, eu estava na região da Vila Madalena, um bairro conhecido por sua vida noturna agitada, quando recebi uma solicitação que me fez hesitar. O nome do passageiro era estranho: Asher. Não era comum ver nomes tão diferentes por ali. O ponto de encontro era numa esquina escura da Rua Harmonia, onde as luzes dos bares piscavam como estrelas distantes.
Enquanto dirigia, uma sensação estranha começou a me consumir. O ar estava denso, como se a atmosfera estivesse carregada de algo inexplicável. Quando finalmente cheguei ao local, Asher estava encostado em um muro, sua figura esguia quase se fundindo com a escuridão ao redor. Seus olhos brilhavam de maneira peculiar, refletindo a luz dos postes de rua como se houvesse algo mais neles, algo que não era deste mundo.
“Oi, você é o Lucas?”, ele perguntou, sua voz suave e hipnotizante. Eu acenei, sentindo um frio na espinha que não conseguia explicar. Assim que ele entrou no carro, a temperatura pareceu despencar. O ar ficou pesado e a música que tocava no rádio se distorceu, como se alguma força invisível estivesse interferindo.
Os primeiros minutos da corrida foram silenciosos, exceto pelo ruído do trânsito e os ecos distantes da cidade. Mas logo, algo mais começou a acontecer. Asher olhou pela janela, e eu percebi que suas feições mudaram; ele parecia estar em outro lugar, em outra época. “Você acredita em fantasmas?”, ele perguntou de repente, a pergunta pairando no ar como um aviso. Eu ri nervosamente, tentando quebrar o gelo, mas a verdade é que o que eu sentia era mais do que desconforto—era um pressentimento.
As ruas de São Paulo, que costumavam ser familiares, agora pareciam um labirinto de incertezas. A avenida João Dias, com seu tráfego incessante, se transformou em um cenário de pesadelo. Eu me vi desviando de carros que pareciam surgir do nada, e Asher, sentado ao meu lado, parecia cada vez mais distante e, ao mesmo tempo, intensamente presente. “Você vai se lembrar de mim”, ele murmurou, e sua voz soou como um eco em minha mente.
O que era esse homem? Por que ele parecia tão familiar e tão alienígena ao mesmo tempo? Meu coração batia acelerado, e uma sombra do meu passado começou a se insinuar em meus pensamentos. Quando eu tinha dez anos, minha irmã mais nova desapareceu em uma noite como aquela, e eu nunca consegui entender o que aconteceu. A dor daquela perda sempre foi uma ferida aberta, e agora, ao olhar para Asher, a sensação de que ele estava ligado a esse evento começou a tomar forma.
Enquanto dirigia pelas ruas de Pinheiros, a escuridão se aprofundava, e uma névoa espessa começou a se formar, envolvendo o carro como um abraço gelado. “Você sabe que a cidade guarda segredos, não sabe?”, Asher sussurrou, e eu quase parei de respirar. Era como se ele estivesse revelando um mistério que não deveria ser desvendado.
Toda a minha vida, eu trabalhei para evitar o desconhecido, para manter as memórias de minha irmã longe da superfície. Mas agora, com Asher ao meu lado, as barreiras começaram a se desfazer. A cada curva, eu me sentia mais próximo de um abismo, e a cidade, com suas luzes e sombras, parecia me chamar, como se quisesse me mostrar o que estava escondido.
Mas quando a noite caiu de vez, algo inexplicável aconteceu…
A névoa espessa envolvia o carro como uma coberta pesada, e eu sentia meu coração acelerar enquanto a cidade se tornava um lugar cada vez mais estranho. Asher, ao meu lado, parecia estar em transe, seus olhos fixos na escuridão que nos cercava. Eu, por outro lado, estava em um estado de alerta, os instintos de sobrevivência gritando para que eu parasse e descesse daquele carro.
“Para onde estamos indo?”, perguntei, tentando manter a calma. Asher apenas sorriu, um sorriso que parecia carregado de segredos. “Para onde você precisa ir”, ele respondeu enigmático, sua voz soando como um sussurro que reverberava no fundo da minha mente. Minha respiração se tornou irregular, e uma onda de ansiedade me atingiu. O que ele queria dizer com isso?
O carro deslizou pela Avenida Faria Lima, e a cada segundo, a tensão aumentava. A névoa tornou-se mais densa, obscurecendo a visão dos outros carros e das luzes que costumavam iluminar a cidade. Eu me virei para olhar Asher, mas ele estava agora olhando para frente, como se estivesse vendo algo além do que meus olhos podiam perceber. “Você não deveria estar aqui”, ele disse, sua voz mais firme, como se estivesse se dirigindo a alguém que não estava presente.
Nesse momento, o carro começou a tremer. Eu apertei o volante, tentando manter o controle, mas a direção parecia ter vida própria. O painel piscou e a música que tocava se transformou em um som distorcido, como se estivesse sendo interrompida por uma interferência. A escuridão ao nosso redor parecia ganhar forma, e eu me senti como se estivesse sendo puxado para um abismo de incertezas.
“Calma, Lucas!”, gritou Asher, e sua voz me trouxe de volta à realidade. “Precisamos chegar até o ponto de luz!” O que ele queria dizer com “ponto de luz”? A única luz que eu via era a do farol de um carro que se aproximava, mas, estranhamente, ele parecia estar se afastando de nós, como se estivesse em uma outra dimensão.
“Que ponto de luz?”, perguntei, a voz tremendo. Asher olhou para mim com um olhar intenso, e eu pude sentir uma conexão inexplicável. “Você sabe o que aconteceu com sua irmã. Você precisa encarar isso.”
As palavras dele foram um soco no estômago. Minha irmã, desaparecida há anos, a dor daquela perda sempre me acompanhou como uma sombra. “O que você sabe sobre isso?” eu praticamente gritei, a frustração e o medo se misturando em minha voz. Asher se virou para mim, seus olhos brilhando com uma luz própria, e pela primeira vez, eu percebi que ele não era apenas um passageiro aleatório. Ele era um agente de algo muito maior, algo que estava além da minha compreensão.
“Eu sei mais do que você imagina, Lucas. Você não é o único que carrega um fardo.” Aquelas palavras ecoaram em minha mente, e eu percebi que não era apenas a minha dor que estava sendo revelada. O carro estava agora em um local que eu não reconhecia, cercado por sombras que pareciam se mover. “Eu não posso fazer isso sozinho”, ele continuou, sua voz agora mais urgente. “Precisamos de ajuda.”
Nesse momento, uma luz forte brilhou à nossa frente, e o carro parou abruptamente. Eu olhei pela janela e vi uma figura se aproximando. Era uma mulher, com cabelos longos e uma presença que irradiava poder. Ela se aproximou do carro e sorriu, mas havia uma tristeza em seu olhar. “Asher, você finalmente trouxe alguém”, ela disse, e sua voz era suave, mas cheia de autoridade. “Lucas, você deve escolher. A verdade não será fácil.”
“Quem é você?”, perguntei, sentindo que o chão sob meus pés estava se desmoronando. “Meu nome é Isadora, e eu sou uma guardiã das histórias que a cidade esconde”, ela respondeu, olhando diretamente nos meus olhos. “Você está prestes a entrar em um mundo onde os mortos e os vivos se cruzam, e sua jornada não será apenas pela sua irmã, mas por todos aqueles que foram perdidos.”
Eu estava paralisado. O que ela estava sugerindo? Uma parte de mim queria acreditar que era apenas uma loucura, uma alucinação gerada pela tensão da corrida. Mas outra parte, uma parte que eu não sabia que existia, queria desesperadamente entender. “O que você quer dizer com ‘os mortos e os vivos’?”, perguntei, a voz falhando.
Asher, que havia permanecido em silêncio, agora falou com uma seriedade que me gelou. “A cidade está cheia de ecos, Lucas. E sua irmã é um deles. Você precisa encarar suas memórias, seus medos, se quiser encontrar a verdade.”
Isadora olhou para mim, e eu pude ver que ela não estava apenas me encarando; ela estava avaliando minha alma. “Se você decidir seguir, saiba que a jornada será cheia de desafios. Você pode encontrar o que busca, mas também pode perder o que já tem. O que escolherá?”
Nesse momento, as sombras ao nosso redor começaram a se agitar, como se quisessem me engolir. A pressão aumentava, e o carro se tornou um caldeirão de emoções. Eu olhei para Asher, depois para Isadora. O que eu realmente queria? Eu queria entender o que aconteceu naquela noite fatídica, mas também temia o que poderia descobrir.
“Eu… eu quero saber”, confessei, a voz quase um sussurro. “Quero entender o que aconteceu com minha irmã.”
Isadora assentiu, e uma expressão de compreensão passou por seu rosto. “Então vamos. Mas esteja preparado, Lucas. O que você descobrirá pode mudar tudo.”
A névoa espessa começou a se dissipar, e o carro parecia finalmente estar em movimento de novo. Mas agora, a sensação de que eu estava prestes a cruzar uma linha sem volta era palpável. O que viria a seguir? A resposta estava escondida nas sombras da cidade, e eu estava prestes a descobrir a verdade que havia sido enterrada por tempo demais.
A névoa se afastou lentamente, revelando um cenário que parecia ter saído de um pesadelo. O carro parou em uma rua deserta, onde as sombras dançavam com uma vida própria. A luz que antes nos guiava agora parecia pulsar, como se tivesse um ritmo, uma batida que ecoava nas profundezas de minha mente. Ao olhar para fora, pude ver uma figura se aproximando, mas não era a mulher que havia falado comigo. Era uma criança, vestindo um vestido branco que balançava suavemente com o vento frio.
“Você está perdido”, a menina disse com uma voz suave, mas ao mesmo tempo, carregava uma tristeza imensa. A expressão em seu rosto era de uma sabedoria que não condizia com a idade que aparentava. Eu não sabia como responder. Como ela sabia que eu estava perdido? “Você está procurando por ela”, ela continuou, olhando diretamente para mim. “Mas ela não quer ser encontrada.”
Senti um frio na espinha. O que ela queria dizer com isso? Antes que eu pudesse formular uma pergunta, a figura de Isadora se aproximou, interrompendo o que poderia ser uma conversa reveladora. “Não escute a criança, Lucas. Ela é um eco do que você teme. O passado não pode ser alterado, mas pode ser compreendido.”
“Quem é essa menina?”, perguntei, meu coração batendo descompassado. Asher parecia tão perplexo quanto eu, e eu percebi que ele também não tinha respostas. Isadora olhou para a criança, e um olhar de tristeza passou por seu rosto. “Ela é uma das muitas almas que vagam por aqui. Uma lembrança de algo que você tentou esquecer.”
A criança sorriu de maneira enigmática, e eu senti uma onda de desespero. “Você não pode fugir do que sente, Lucas. O que aconteceu com sua irmã está mais próximo do que você imagina”, ela disse, e a voz dela ecoou como um sussurro no vento. “Você precisa confrontar o que aconteceu naquela noite.”
O que aconteceu naquela noite? A pergunta martelava em minha mente, como um tambor ensurdecedor. O que eu realmente lembrava daquela noite? Eu tinha apagado tantas memórias, bloqueado tantas emoções. “Lucas!”, Asher me chamou, e eu percebi que eu havia me perdido em pensamentos. “Precisamos ir. O tempo está se esgotando.”
“Para onde?”, eu perguntei, confuso. “Para onde estamos indo, Asher?” Ele olhou para Isadora, e uma troca silenciosa de expressões entre eles me deixou inquieto. “Estamos indo para o ponto onde tudo começou”, Isadora respondeu, sua voz agora cheia de gravidade. “Aqui, você terá a chance de entender a verdade.”
A névoa começou a se formar novamente, e antes que eu pudesse protestar, Asher ligou o carro e seguimos em frente. A cidade parecia distorcida, como se sua essência estivesse sendo drenada. As luzes piscavam, e um sentimento de desespero tomava conta de mim. Eu precisava entender, mas a verdade parecia um labirinto sem saída.
“Isadora, você disse que a verdade não seria fácil”, eu disse, buscando uma resposta. “O que exatamente vou descobrir?” Ela me olhou, a compaixão em seu olhar quase me fez sentir esperança. “Você descobrirá que os laços que você tem com sua irmã são mais profundos do que você pensa. E que a dor que carrega é um eco de escolhas que foram feitas.”
Uma sombra passou rapidamente pela janela do carro, e eu quase gritei. “O que foi isso?”, perguntei, olhando para Asher. Ele não respondeu imediatamente, mas pude ver a preocupação em seu rosto. “São as memórias, Lucas. Elas podem se manifestar de maneiras que você não imagina. Precisamos estar preparados.”
De repente, o carro parou novamente, e Isadora nos ordenou que saíssemos. “Estamos perto”, disse ela, e ao abrir a porta, fui atingido por uma onda de frio e um cheiro de terra molhada. Olhei ao redor e percebi que estávamos em um parque que eu reconhecia vagamente. Ele parecia muito diferente, coberto de sombras e névoa. Era o parque onde costumávamos brincar, onde eu e minha irmã costumávamos correr e rir. Mas agora, tudo estava envolto em uma atmosfera opressiva.
“Por que estamos aqui?”, eu sussurrei, a lembrança da infância agora misturada com uma sensação de perda. Isadora se virou para mim, e seus olhos brilharam com uma intensidade que me paralisou. “Porque aqui é onde tudo começou. Aqui, você precisa confrontar o que aconteceu.”
Eu hesitei, mas a pressão aumentava, e eu sabia que não havia como voltar atrás. “O que eu estou prestes a descobrir… pode destruir tudo o que eu conheço?” perguntei, a incerteza pesando em meu coração.
“As verdades que você busca podem ser dolorosas, mas são necessárias”, Isadora respondeu. “O que você descobrirá pode não apenas mudar sua percepção sobre sua irmã, mas também sobre si mesmo.”
Enquanto ela falava, a névoa começou a se dissipar, revelando uma cena que me fez estremecer. No centro do parque, havia uma antiga fonte, e ao redor dela, uma série de figuras sombrias se moviam. Eram pessoas que eu conhecia, rostos familiares, mas eles estavam distorcidos, como se fossem sombras de quem eram. Entre eles, vi uma imagem de minha irmã, seu olhar vazio e distante.
“Não! Não pode ser!” gritei, a dor e a confusão se transformando em desespero. O que eu estava vendo não era real. Era uma ilusão, uma manifestação das minhas piores memórias. Mas a verdade começou a se infiltrar na minha mente como um veneno.
“Lucas, olhe para ela”, Asher disse, sua voz grave. “Ela está presa em um ciclo, e você precisa quebrá-lo.”
Mas como eu poderia fazer isso? Minha mente estava em frangalhos, e as figuras ao redor da fonte começaram a se aproximar, suas vozes ecoando, misturadas em um coro de lamentos. “Você nos abandonou!”, uma delas gritou. “Você deixou isso acontecer!”
A culpa começou a me consumir. “Não! Eu não sabia!”, eu protestei, mas as palavras soavam vazias. O que eu havia feito? O que eu não fiz? As sombras se tornaram mais intensas, e a figura da minha irmã se aproximou, seus olhos agora cheios de dor e expectativa.
“Você precisa lembrar, Lucas. Você precisa enfrentar a verdade”, ela sussurrou, e eu percebi que a única maneira de seguir em frente era confrontar o que eu havia enterrado tão profundamente.
O peso dessas palavras me atingiu como uma onda. Eu estava prestes a descobrir que a verdade não apenas moldou o passado, mas também poderia transformar o presente. E enquanto eu olhava para a fonte, sentindo a presença de minha irmã, percebi que a jornada estava apenas começando. A névoa que me cercava não era apenas uma barreira; era uma porta para o que eu precisava enfrentar.
E assim, com o coração acelerado e a mente confusa, avancei em direção à fonte, determinado a descobrir a verdade que mudaria tudo. Mas o que eu não sabia era que a revelação que me aguardava era mais complexa do que eu poderia imaginar, e as consequências de minhas escolhas seriam profundas e duradouras.
A névoa espessa se movia como serpentes à minha volta, e a fonte à minha frente pulsava com uma energia sombria. Eu podia sentir o peso da expectativa, como se o próprio ar estivesse carregado de presságios. Aqueles rostos distorcidos ao redor da fonte — rostos que eu conhecia bem — me observavam com uma mistura de raiva e tristeza. Eu estava prestes a entrar em um confronto não apenas com as sombras do meu passado, mas com as verdades que eu havia evitado por tanto tempo.
“Lucas, você precisa voltar a essa noite”, a figura da minha irmã disse, seu tom era um misto de urgência e dor. “Lembre-se do que aconteceu. Apenas assim você poderá me ajudar.”
Cada palavra dela ecoava em minha mente, como um chamado que não podia ignorar. “Mas eu não quero lembrar! Eu não posso!” gritei, a frustração e a culpa transbordando em minha voz. As sombras ao meu redor pareciam se alimentar do meu desespero, e as figuras começaram a se aproximar, cercando-me com murmúrios de reprovação. “Você nos abandonou! Você poderia ter feito algo!”
Senti a pressão em meu peito aumentar. O que eu poderia ter feito? Eu era apenas uma criança. A lembrança daquela noite estava tão borrada, tão distante. Mas agora, encarando a dor nos olhos da minha irmã, percebi que não poderia mais fugir. Eu precisava enfrentar o que havia acontecido.
“Olhe para a fonte, Lucas”, Isadora ordenou, sua voz firme cortando o caos ao meu redor. “Ela guarda a verdade que você teme. Mergulhe nas suas memórias e enfrente o que você esconde.”
Com relutância, caminhei em direção à fonte. O murmúrio das sombras aumentou, e a água jorrava com uma força hipnótica. “Lembre-se, Lucas”, a voz da minha irmã soou novamente, agora mais clara, mais próxima. “Lembre-se de nós.”
Fechei os olhos e deixei as lembranças invadirem minha mente. O riso infantil, as brincadeiras no parque, a luz do sol filtrando-se pelas folhas das árvores. Mas então, a imagem começou a mudar. Uma luz ofuscante se transformou em um crepúsculo sombrio, e as risadas se tornaram ecos de medo e desespero. Lembrei-me de uma noite em que a escuridão se apoderou de tudo. O grito, a confusão, e a dor da perda. Minha irmã havia desaparecido, e eu não fiz nada para impedi-la.
“Não, isso não foi minha culpa!” eu gritei, lutando contra as memórias que surgiam como fantasmas. O peso da culpa me esmagava, e eu desejei poder voltar no tempo, mudar o curso dos eventos. “Eu era apenas uma criança!” Mas a verdade era que eu não tinha feito nada. Eu havia permanecido paralisado, incapaz de agir.
“Você precisa perdoar a si mesmo, Lucas”, a figura de Isadora disse, aproximando-se do meu lado. “A culpa não é sua, mas a dor é real. Você precisa libertar essa dor para ajudar a sua irmã.”
As figuras ao meu redor começaram a se agitar, e a fonte emitiu um brilho intenso. “Você não pode mudar o passado, mas pode escolher como isso o afeta no presente”, Asher interveio, sua voz grave carregando um peso de sabedoria. “Você tem o poder de quebrar esse ciclo.”
Ouvindo isso, olhei para a fonte novamente. “Como posso quebrar esse ciclo?” perguntei, sentindo a fraqueza em minha voz. “Como posso ajudar minha irmã?”
“Encare a verdade”, Isadora respondeu, seu tom decisivo ressoando na névoa. “Diga a ela o que você sente. Diga a ela que você está aqui.”
Com um esforço colossal, eu me aproximei da fonte. A água brilhava como um espelho, refletindo não apenas meu rosto, mas também o olhar triste da minha irmã. “Desculpe”, eu disse, com a voz embargada. “Desculpe por não ter feito nada. Eu me senti impotente, e isso me consumiu. Eu não sabia como te ajudar.”
A figura dela hesitou, e por um instante, o ambiente ao nosso redor pareceu se acalmar. “Lucas”, ela sussurrou, e seus olhos brilharam com uma luz que parecia aquecer meu coração. “Eu nunca quis que você se sentisse assim. Eu só queria que você soubesse que eu te amava, mesmo naquela noite escura.”
As sombras ao nosso redor começaram a se dissipar, e a fonte flutuava suavemente, como se estivesse respondendo às nossas emoções. Mas ainda havia uma tensão no ar, uma resistência que não podia ser ignorada. “Você precisa decidir, Lucas”, Isadora disse, sua expressão grave. “Você pode continuar preso a este ciclo de dor, ou pode escolher a liberdade.”
“Liberdade?” eu repeti, lutando para entender. “Como posso ser livre se minha irmã ainda está presa aqui?”
“Ela não está presa, Lucas. Você é quem a mantém aqui ao carregar essa culpa. Liberte-se e a liberte também”, Asher respondeu, sua voz firme e direta. “A escolha é sua.”
Senti a pressão em meu peito aumentar novamente, mas agora era diferente. Era uma pressão de esperança. “Eu escolho a liberdade”, declarei, sentindo uma onda de determinação crescer dentro de mim. “Eu escolho enfrentar a verdade e deixar a dor ir.”
Com um profundo suspiro, olhei novamente para a fonte. “Eu te amo, Isabela”, eu disse, as palavras fluindo como um rio. “Eu sempre te amei, e sempre vou te amar. E eu sinto muito por não ter agido naquela noite. Estou aqui agora, e vou fazer o que for preciso para que você encontre a paz.”
A figura dela sorriu, e a energia ao nosso redor começou a mudar. As sombras se afastaram, e a fonte começou a brilhar intensamente, como se estivesse respondendo à minha declaração. “Obrigado, Lucas”, a voz dela ecoou, agora cheia de amor e compreensão. “Finalmente, estou livre.”
Com essas palavras, a fonte explodiu em uma onda de luz, e as sombras foram arrastadas para longe, como se fossem nuvens dissipando-se sob a luz do sol. Eu senti um peso enorme se levantar dos meus ombros, e uma nova sensação de paz tomou conta de mim. O parque, antes envolto em trevas, começou a reverter para uma cena mais familiar e alegre.
Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que essa vitória não era o fim — era apenas o começo de uma nova jornada. A luz da fonte iluminou o caminho à minha frente, e eu estava preparado para o que viesse a seguir. O que eu havia aprendido era que, embora o passado não pudesse ser mudado, o presente estava cheio de possibilidades. E, acima de tudo, eu não estava mais sozinho. Isadora e Asher estavam comigo, prontos para enfrentar o que quer que viesse a seguir.
À medida que a névoa se dissipava, e o parque se transformava em um lugar de luz e esperança, eu sabia que estava pronto para buscar a verdade, não apenas sobre minha irmã, mas também sobre mim mesmo. E assim, caminhando em direção ao futuro, eu estava determinado a descobrir o que mais a vida tinha reservado para mim.
A luz da fonte se dissipou lentamente, deixando um rastro morno e radiante em meio à névoa que agora se afastava. Eu estava cercado por um silêncio que parecia profundamente reconfortante, mas ao mesmo tempo carregava ecos de tudo o que havia acontecido. Enquanto olhava para o lugar onde Isadora havia estado, um vazio imenso se formou dentro de mim, como se uma parte de mim tivesse sido arrancada, mas uma nova esperança começava a brotar.
Lembrei-me de suas palavras, de como ela sempre estivera ao meu lado, mesmo nas horas mais sombrias. Sentia que, de alguma forma, ainda a carregava comigo, não apenas como uma lembrança, mas como uma força que agora me impulsionava para frente. No entanto, a dor da perda ainda ardia, e as cicatrizes emocionais que se formaram ao longo dos anos não se apagariam tão facilmente. Ao olhar para o reflexo na água, percebi que havia mudanças dentro de mim — um novo entendimento, mas também uma nova vulnerabilidade.
Com um suspiro profundo, voltei meu olhar para o parque. O ambiente agora estava repleto de vida; as árvores balançavam suavemente com o vento, e os pássaros cantavam em um tom alegre. Mas, apesar da beleza que me cercava, eu ainda sentia a sombra da culpa. “Eu deveria ter feito mais”, pensei, as memórias da noite fatídica voltando a assolar minha mente.
Foi então que percebi que a fonte não era apenas um portal para o passado, mas também um símbolo do que eu deveria fazer a seguir. Eu tinha uma nova missão: não apenas honrar a memória de Isadora, mas também enfrentar os fantasmas que ainda me atormentavam. As cicatrizes físicas e emocionais que eu carregava se tornavam um lembrete constante de que a vida não era feita apenas de alegrias, mas também de desafios e aprendizados.
Enquanto caminhava pelo parque, uma nova figura surgiu em minha visão. Era Asher, seu semblante sério e focado. Ele se aproximou de mim, e o olhar em seus olhos era de compreensão. “Você conseguiu, Lucas”, ele disse, sua voz profunda e reconfortante. “Você quebrou o ciclo. Mas agora, a batalha interna ainda não acabou.”
“Eu sei”, respondi, tentando esconder a fragilidade na minha voz. “Ainda sinto que há algo que não foi resolvido. Algo que me impede de seguir em frente completamente.”
Asher assentiu, como se já soubesse da luta que ainda estava por vir. “A escuridão não desaparece facilmente. Você pode ter libertado Isadora, mas a dor e a culpa ainda vivem dentro de você. Isso é o que você precisa enfrentar agora.”
As suas palavras reverberaram em minha mente. Eu ainda tinha que lidar com as consequências de minhas escolhas, e a verdade era que, mesmo após a libertação de minha irmã, os traumas não se dissipariam de repente. O que eu não sabia era que essas cicatrizes poderiam acabar me guiando a novas verdades, a novos mistérios que precisavam ser explorados.
Enquanto falávamos, uma sombra se moveu entre as árvores, capturando minha atenção. Uma figura encapuzada observava à distância, o rosto oculto. Um arrepio percorreu minha espinha. “Quem é aquilo?” perguntei, minha voz tremendo levemente.
Asher franziu a testa, e por um momento, a expressão dele mudou de confiança para cautela. “Não sei. Mas isso não é um bom sinal. A energia que você liberou pode ter atraído algo — ou alguém — que estava esperando por uma oportunidade.”
“Esperando por uma oportunidade?” eu repeti, o coração acelerando. A ideia de que algo mais sombrio poderia estar espreitando nas sombras me deixou inquieto. “O que eu fiz para chamar a atenção disso?”
“Não se preocupe”, Asher disse, tentando me acalmar. “Agora que você se libertou de sua culpa, a escuridão não tem mais controle sobre você. Mas ainda é importante permanecer vigilante.”
O mistério da figura encapuzada me deixava inquieto. Havia algo em sua presença que ressoava com os ecos da noite fatídica. “Eu preciso descobrir quem é”, afirmei, sentindo um impulso incontrolável. “Não posso deixar que isso me assombre novamente.”
“Então vamos”, Asher respondeu, seus olhos determinados. “Juntos, descobriremos o que está acontecendo. Mas lembre-se, Lucas, enfrentar o desconhecido exige coragem. Você precisa estar pronto para as verdades que podem surgir.”
Com um aceno de cabeça, segui Asher na direção da figura encapuzada. A adrenalina pulsava em minhas veias, e a determinação de confrontar o que quer que estivesse à espreita me dava força. Eu havia enfrentado as sombras do meu passado. Agora, era hora de encarar as sombras que ainda se escondiam no presente.
À medida que nos aproximávamos, a figura se virou lentamente, e o capuz caiu ligeiramente, revelando um rosto que eu reconheci — um antigo amigo, alguém que eu não via há anos. O choque me paralisou. “Felipe?” eu exclamei, a incredulidade misturando-se com a confusão. “Você está vivo?”
A expressão no rosto dele era uma mistura de dor e alívio. “Lucas, você não entende. Eu preciso da sua ajuda. Há coisas que você precisa saber. Coisas que envolvem Isadora e… o que aconteceu naquela noite.”
As palavras de Felipe ecoaram em minha mente como um chamado. O passado ainda não havia dito a última palavra, e a revelação que ele trazia poderia mudar tudo novamente. E assim, com o peso das cicatrizes ainda frescas em meu coração, eu sabia que a minha jornada estava longe de acabar. O que havia sido resolvido agora se entrelaçava com novas perguntas e mistérios que me aguardavam.
E, com um último olhar para a fonte que havia me libertado, preparei-me para o que estava por vir. O futuro ainda era incerto, mas minha determinação estava firme. Eu enfrentaria o que fosse necessário — pela memória de Isadora, pela verdade que buscava e, acima de tudo, por mim mesmo.
A tensão pairava no ar enquanto olhava para Felipe, buscando respostas em seus olhos. Ele era um fantasma do meu passado, alguém que eu pensava ter perdido para sempre. Agora, ele estava de volta, e suas palavras traziam um peso que eu não estava preparado para suportar. “O que você sabe sobre Isadora?” perguntei, minha voz quase um sussurro.
Felipe hesitou, como se estivesse ponderando como transmitir a verdade que poderia nos destruir. “Eu… eu vi o que aconteceu naquela noite. E não foi apenas um acidente. Há forças em jogo, Lucas, muito além do que conseguimos entender. Isadora não era apenas uma vítima — ela estava envolvida em algo maior. Algo que continua a nos perseguir.”
Minhas mãos se fecharam em punhos, a raiva e a dor voltando à superfície. “Então, você está dizendo que a culpa não foi minha? Que havia algo mais envolvido?”
“Sim, mas isso não significa que você esteja livre das consequências,” ele disse, a gravidade em sua voz me deixando inquieto. “A energia que você liberou ao libertá-la pode ter atraído o que estava escondido. E agora, você deve fazer uma escolha.”
“Uma escolha?” eu repeti, a palavra soando estranha e pesada. “Que escolha?”
Ele respirou fundo, sua expressão se tornando mais sombria. “Você pode usar o poder que Isadora deixou para você, mas isso virá a um custo terrível. Você pode enfrentar essa nova ameaça, mas ao fazê-lo, pode perder a própria essência do que você é. Ou… você pode ignorar isso, mas as consequências podem afetar todos ao seu redor — pessoas que você ama.”
Senti um frio na espinha. O que ele estava me dizendo era apavorante. Eu poderia me sacrificar, mas ao mesmo tempo, poderia condenar outros. As opções se desenrolavam diante de mim como um pesadelo, e a pressão de escolher parecia esmagadora.
“Qualquer que seja a escolha que você fizer, ela terá um impacto profundo,” Felipe continuou. “A escuridão que você libertou não vai simplesmente desaparecer. E a verdade é que, se você não agir, ela pode se espalhar, consumindo tudo o que você ama.”
Eu estava em uma encruzilhada terrível. Poderia absorver essa escuridão, tornando-me uma extensão dela, ou poderia arriscar tudo e deixar que ela devastasse aqueles que ainda estavam ao meu lado. O peso da decisão ameaçava me afundar.
“Felipe, eu não sei o que fazer,” confessei, a vulnerabilidade em minha voz cortando o silêncio. “Ambas as escolhas parecem terríveis.”
“Não há escolhas fáceis em tempos de escuridão,” ele respondeu, sua voz carregada de tristeza. “Mas você deve decidir agora.”
Enquanto a névoa se adensava ao nosso redor, eu percebi que a escolha não era apenas sobre o que eu faria, mas também sobre quem eu me tornaria. Olhei para Asher, que permanecia ao meu lado, e então de volta para Felipe.
Com um coração pesado, fiz minha escolha. Eu escolheria enfrentar a escuridão, mesmo que isso significasse sacrificar a mim mesmo. O peso sobre meus ombros se tornou mais leve, e a determinação surgiu em meu interior. Eu não deixaria que a sombra de meu passado definisse meu futuro, mesmo que isso significasse me tornar algo que eu temia.
“Eu vou enfrentar isso,” declarei, a voz firme na escuridão. “Por Isadora. Por todos que ainda estão vivos.”
Felipe e Asher trocaram um olhar, e pude sentir a energia mudando ao meu redor. O que quer que estivesse à espreita, eu estava pronto para confrontar. Mas, ao mesmo tempo, a incerteza e o medo pulsavam em minhas veias. O que eu havia me tornado?
Assim, com a mente repleta de dúvidas e o coração decidido, avancei para o desconhecido, preparado para o que estava por vir.