O que você faria se, ao dirigir à noite, sentisse que não estava mais sozinho?
A estrada estava deserta, como se o mundo inteiro tivesse decidido se esconder sob o manto da noite. Eu sempre ouvi dizer que as estradas têm histórias a contar, mas nunca imaginei que uma delas poderia me levar à borda do desconhecido. O que você faria se, ao dirigir à noite, sentisse que não estava mais sozinho? Essa pergunta pairava em minha mente enquanto eu cruzava as ruas de Vitória, a cidade que conhecia tão bem, mas que sob a luz da lua se transformava em um labirinto de sombras e sussurros.
Meu nome é Lucas, e sou motorista de aplicativo. Sempre gostei da liberdade que a condução me proporcionava, mas naquela noite, algo estava diferente. As ruas de Jardim Camburi estavam mais vazias do que o normal, e a sensação de estar sendo observado me acompanhava. A brisa fria que entrava pela janela do carro parecia carregar consigo os ecos de um passado que eu tentava esquecer. Logo, me vi lembrando de um evento traumático de minha infância — a perda de um amigo, Pedro, em um acidente que nunca consegui entender completamente. Aquela tragédia me marcou, e, desde então, a escuridão sempre trouxe à tona os meus medos mais profundos.
À medida que dirigia, as luzes da cidade começaram a piscar, como se estivessem tentando me alertar sobre algo. Foi então que recebi uma solicitação de corrida, um destino que me levou até um dos bairros mais antigos de Vitória, a Praia do Canto. A estrada, ladeada por árvores retorcidas e edifícios que pareciam sussurrar segredos, me envolveu em um clima de mistério. Mas o que realmente me deixou inquieto foi a natureza da corrida — uma jovem mulher, que parecia estar em apuros, com um endereço que eu mal reconhecia.
Enquanto dirigia, o silêncio era ensurdecedor. A única coisa que quebrava a monotonia era o som dos meus próprios pensamentos e o motor do carro, que ressoava como um trovão em uma noite silenciosa. O que poderia estar aguardando por mim naquele endereço? E por que a mulher parecia tão desesperada? As perguntas se acumulavam em minha mente, formando um labirinto de incertezas. Assim que cheguei ao local, a tensão no ar era palpável. O que deveria ser uma simples corrida se transformava em algo muito mais sinistro.
Quando a jovem entrou no carro, seu olhar estava carregado de medo. Ela se chamava Mariana e, em meio a soluços, contou que havia alguém a seguindo. A cada palavra que saía de seus lábios, o peso da noite parecia aumentar. O que estava acontecendo? Por que ela estava tão assustada? As sombras ao nosso redor pareciam se mover, e eu não podia deixar de sentir que estávamos sendo observados.
Enquanto dirigia pelas ruas de Santa Teresa, percebi que a atmosfera estava mudando. As luzes da cidade pareciam se distanciar, e a escuridão se aproximava, como se quisesse nos engolir. Mariana começou a olhar para trás, seus olhos arregalados de terror, como se alguma presença invisível estivesse nos seguindo. O medo dela era contagiante, e eu me vi preso entre a razão e a intuição, lutando para entender o que realmente estava acontecendo.
A cada esquina, eu tentava acalmá-la, mas a tensão era tão intensa que eu mal conseguia respirar. A estrada se tornava cada vez mais familiar e, ao mesmo tempo, estranha. Eu me lembrava de ter dirigido por ali inúmeras vezes, mas agora tudo parecia diferente, como se a própria cidade estivesse se transformando em um pesadelo. As lembranças de Pedro voltaram a me assombrar, e eu me perguntei se essa noite traria mais do que apenas um simples susto.
Conforme avançávamos, o clima se tornava mais opressivo. A chuva começou a cair, e os faróis do carro cortavam a escuridão como facas. O barulho da chuva batendo no teto parecia um aviso, um prenúncio do que estava por vir. Então, a figura de um homem apareceu de repente na estrada, bloqueando nosso caminho. O coração disparou em meu peito. Quem era aquele? O que ele queria?
Foi nesse momento que percebi que estávamos prestes a cruzar uma linha que não poderia ser desfeita. Mariana gritou, e eu, sem pensar, acelerei. Mas a estrada não parecia mais a mesma. Algo estava prestes a acontecer, e eu sabia que nada seria como antes. O passado e o presente se entrelaçavam, e a escuridão parecia estar se aproximando, pronta para revelar seus segredos mais sombrios.
Mas quando a noite caiu, algo inexplicável aconteceu…
A noite parecia ter vida própria, e as gotas de chuva, que antes eram um mero incômodo, agora ecoavam como batidas de um tambor, marcando o compasso de uma sinfonia de terror. Eu não sabia qual era o objetivo do homem que bloqueava nosso caminho, mas a expressão de Mariana refletia um medo que eu nunca havia visto antes. Acelerando, passei por ele sem olhar para trás, mas a imagem daquele estranho se gravou em minha mente, como uma sombra que se recusa a desaparecer.
Enquanto dirigia, tentei me concentrar na estrada. As luzes da cidade se tornaram um borrão ao nosso redor, e a sensação de estarmos sendo seguidos se intensificou. Mariana, com lágrimas escorrendo pelo rosto, começou a murmurar sobre um grupo que a estava perseguindo. Palavras como “culto”, “sacrifício” e “perigo” surgiram de sua boca, e cada uma delas parecia um prego cravado em meu peito. O que estava acontecendo? O que ela havia feito para se tornar alvo de alguém tão perigoso?
— Mariana, respira. Vamos sair dessa, eu prometo — tentei dizer, mas minha voz soava mais como um sussurro do que uma promessa. Tentei me lembrar das técnicas que aprendera para acalmar passageiros nervosos, mas nada parecia funcionar. A tensão, agora palpável, preenchia o carro.
Ela olhou para mim, seus olhos uma mistura de desespero e esperança. A conexão que eu sentia com ela, mesmo em meio ao caos, era intensa. Mas ao mesmo tempo, uma parte de mim tinha medo. Medo do que poderia acontecer a seguir e medo do que eu poderia perder. O passado, com sua carga de dor e arrependimento, parecia se entrelaçar com o presente de uma forma que eu nunca poderia ter previsto.
Foi então que o celular vibrou em meu bolso. Em meio ao pânico, eu quase hesitei em olhar, mas a urgência me fez puxá-lo rapidamente. Era uma mensagem de um número desconhecido: “Você não deve estar com ela. Eles estão vindo.” O sangue gelou em minhas veias. Quem era? Como sabiam da situação? Perguntas fervilhavam em minha mente, mas não havia tempo para respostas.
— O que foi? — Mariana perguntou, sua voz trêmula.
— Apenas uma mensagem — respondi, tentando esconder a inquietação. — Vamos focar em chegar a um lugar seguro.
Enquanto dirigia, a estrada se tornava cada vez mais estreita, e as árvores pareciam se fechar ao nosso redor, como se o mundo estivesse tentando nos aprisionar. Eu não sabia para onde ir. A minha mente girava em busca de uma solução, mas tudo que eu conseguia pensar era na figura daquele homem e na mensagem enigmática que acabara de receber.
Foi então que, no meio da tempestade, avistei um brilho ao longe. Uma pequena luz que parecia um farol. O que poderia ser? Uma esperança ou uma armadilha? Eu não sabia, mas não tinha escolha. A adrenalina corria em meu sangue enquanto me aproximava da fonte de luz.
Assim que chegamos mais perto, percebi que era um bar, as luzes piscando em um tom esverdeado, quase sobrenatural. O nome “O Refúgio” estava escrito em um letreiro desgastado. Fui tomado por um impulso: talvez ali pudesse encontrar ajuda. Estacionei e, antes que eu pudesse pensar melhor, Mariana já estava saindo do carro, puxando-me com ela.
— Precisamos entrar! — ela disse, sua voz vibrante com a mistura de medo e determinação.
Adentrei o bar, e logo fui envolvido por um ambiente que parecia estar fora do tempo. O cheiro de bebida e tabaco se misturava com o som de conversas sussurradas e risadas nervosas. Os poucos clientes presentes olhavam para nós, seus olhares pesados e curiosos. Naquela atmosfera densa, percebi que alguns deles pareciam mais do que simples frequentadores. Havia uma aura de mistério ao redor de um grupo que estava em uma mesa ao fundo, com gestos discretos e olhares furtivos.
Um homem de terno escuro, com um olhar penetrante, levantou-se e se aproximou de nós. Sua presença era imponente, e uma parte de mim queria recuar.
— O que trouxe vocês aqui, à noite, em meio a essa tempestade? — perguntou ele, a voz baixa e carregada de significado.
Mariana, ainda ofegante, começou a explicar a situação. Eu a observei, percebendo que ela estava se abrindo para um estranho, mas a urgência da situação não me deixava pensar em outra coisa a não ser a segurança dela. O homem parecia ouvir atentamente, mas eu notava um brilho em seus olhos que me deixava inquieto.
— Você está em perigo, não é? — ele disse, olhando diretamente para Mariana. — Eles não vão parar até que consigam o que querem. Mas há uma maneira de se proteger.
— O que você sabe sobre isso? — eu perguntei, a raiva e a desconfiança fervendo dentro de mim.
— Sabe, Lucas, não é apenas uma questão de proteção física. O que está em jogo é muito mais profundo. Eles estão atrás de algo que não se pode ver, mas que pode ser sentido. E você, meu amigo, pode ser a chave para tudo isso.
As palavras do homem nos atingiram como um soco no estômago. Mariana olhou para mim, e por um momento, a conexão que tínhamos se solidificou em um laço frágil, mas poderoso. Eu não sabia se devia confiar naquele estranho, mas a verdade era que estávamos perdidos, e ele parecia ser a única esperança que tínhamos.
— O que eu tenho que fazer? — perguntei, a voz tensa, enquanto a tempestade rugia do lado de fora, como se o universo estivesse esperando por nossa decisão.
— Primeiro, você precisa entender o que está realmente acontecendo. E para isso, precisamos sair deste bar antes que eles nos encontrem. — O homem fez uma pausa, medindo nossas reações. — Venham comigo. A resposta que vocês buscam está mais próxima do que imaginam.
Eu olhei para Mariana, e a decisão foi tomada. A noite ainda guardava muitos mistérios, mas eu sabia que, de alguma forma, estávamos prestes a descobrir a verdade que nos levaria à beira do abismo. E assim, seguimos o homem, sem saber que a verdadeira jornada estava apenas começando.
O homem nos conduziu por um corredor estreito e mal iluminado, e cada passo parecia nos afastar da segurança que havíamos encontrado no bar. A atmosfera estava pesada, quase opressiva, como se o próprio lugar quisesse nos engolir. Eu sentia o coração de Mariana batendo forte ao meu lado, e sua mão, ainda agarrada à minha, tremia. Era um sinal claro de que ela também estava ciente do perigo.
— Onde estamos indo? — perguntei, tentando manter a voz firme, apesar do medo que pulsava em minhas veias.
— Para um lugar seguro — respondeu o homem, sem olhar para trás. — Mas precisamos ser rápidos. O tempo está contra nós.
A pressa dele me deixou inquieto. O que exatamente estava acontecendo? E como ele sabia tanto sobre nós? Cada passo que dávamos parecia nos levar mais fundo em um labirinto de incertezas. Quando finalmente chegamos a uma porta de madeira, o homem parou e se virou para nós.
— Aqui é onde as coisas podem começar a fazer sentido — disse ele, abrindo a porta com um movimento brusco. A luz que emanava de dentro parecia quase sobrenatural, como se fosse um portal para outra realidade.
Entramos e, de repente, me vi em uma sala ampla, repleta de livros antigos e artefatos estranhos. As paredes estavam forradas com símbolos e desenhos que eu não conseguia identificar, mas que evocavam uma sensação de familiaridade inquietante. O homem fechou a porta atrás de nós e se aproximou de uma mesa coberta por um pano preto.
— Sente-se — ordenou, gesticulando para que fizéssemos o mesmo. Mariana e eu trocamos um olhar nervoso antes de nos acomodarmos em cadeiras de madeira gasta.
— Agora, precisamos falar sobre o que realmente está acontecendo — começou o homem, sua voz agora mais suave, mas ainda carregada de urgência. — O culto que está atrás de Mariana não é apenas um grupo qualquer. Eles buscam algo que transcende o mundo físico. Algo que já pertenceu a você, Lucas.
A menção do meu nome me deixou perplexo. Como ele sabia quem eu era? A memória de um passado que eu preferia esquecer começou a emergir das profundezas da minha mente. Lembrei-me de quando era criança e de como meus pais se envolviam em práticas estranhas. Aquelas noites em que a casa estava cheia de sussurros e rituais obscuros, momentos que eu havia bloqueado, mas que agora voltavam com força total.
— O que você quer dizer com “algo que já pertenceu a mim”? — perguntei, tentando manter a calma, mas sentindo a sanidade escorregar entre meus dedos.
— O culto acredita que você é a chave para abrir um portal que os levará a um poder inimaginável. E Mariana… — ele hesitou, observando sua expressão assustada. — Ela é o sacrifício que eles precisam para isso.
Aquelas palavras foram como um choque elétrico. Eu olhei para Mariana, que agora estava pálida, seus olhos arregalados em estado de choque. A ideia de que ela estava em perigo por causa de algo que eu havia feito no passado me deixou enojado.
— Não, isso não pode ser verdade! — gritei, sem conseguir controlar a raiva que fervia dentro de mim. — Eu não sou nada disso!
O homem permaneceu calmo, seu olhar fixo em mim. — Você não entende, Lucas. O que aconteceu no seu passado não é apenas uma lembrança distante. É uma parte de você, e o culto se alimenta disso. Eles sabem que você tem a conexão, e estão dispostos a fazer qualquer coisa para obtê-la.
Mariana começou a chorar, e eu me sentia perdido. O peso da culpa e do arrependimento me esmagava, e eu não sabia como proteger a única pessoa que importava naquele momento. As lembranças da minha infância, as noites em claro, o medo que meus pais me impuseram, tudo isso estava voltando com uma força avassaladora. Eu não queria acreditar que os fantasmas do meu passado tinham voltado para me assombrar, mas a verdade era inegável.
— O que você quer de mim? — perguntei, a voz agora mais baixa, quase um sussurro.
— Você precisa lembrar, Lucas. Lembrar de tudo. Apenas assim poderá entender o que está em jogo e como salvar Mariana.
Aquelas palavras me atingiram como um golpe. Lembrar? O que eu poderia lembrar que pudesse mudar essa situação? A raiva e a dor do passado estavam tão entrelaçadas com minha identidade que eu não sabia por onde começar. E o que mais eu poderia encontrar se mergulhasse de volta naquela escuridão?
— Eu não posso! — protestei, a voz falhando. — Eu não quero ver aquilo novamente!
— Mas você não tem escolha — disse o homem, sua expressão se tornando mais intensa. — Se você não confrontar o que está dentro de você, nunca conseguirá proteger a pessoa que ama.
A pressão aumentava, e as paredes da sala pareciam se fechar ao nosso redor. O ar estava denso, e eu me sentia como se estivesse prestes a desmaiar. A visão de Mariana, com lágrimas escorrendo pelo rosto, me impulsionou a agir. Eu não podia deixá-la sozinha, não podia deixá-la ser consumida por um passado que eu havia tentado esquecer.
— Está bem! — gritei, a determinação crescendo dentro de mim. — O que eu preciso fazer?
O homem sorriu, mas não era um sorriso de alegria. Era como se ele soubesse que estávamos prestes a entrar em um abismo do qual talvez não pudéssemos voltar.
— Primeiro, você precisa se conectar com suas memórias. Precisa entender o que aconteceu naquela noite fatídica. Depois, podemos encontrar uma maneira de enfrentar o culto e proteger Mariana.
Um frio percorreu minha espinha. A lembrança daquela noite, uma noite que eu havia enterrado sob camadas de negação e medo, agora estava prestes a ser desenterrada. A ideia de reviver aquilo me aterrorizava, mas eu sabia que não havia outra escolha.
— Vamos fazer isso — disse, a voz tremendo, mas decidida. — Eu preciso saber.
Enquanto o homem começava a recitar palavras em uma língua que eu não reconhecia, o ambiente ao nosso redor começou a mudar. As paredes se desfocaram, e eu senti uma pressão em minha cabeça, como se estivesse sendo puxado para outra dimensão. A sala começou a girar, e eu me vi mergulhando em um mar de lembranças, cada uma mais vívida e aterradora do que a anterior.
E então, eu vi. A noite em que tudo começou. A escuridão, as vozes sussurrando, o ritual em que meus pais estavam envolvidos. E no centro de tudo isso, uma figura que eu não conseguia reconhecer, mas que carregava uma conexão profunda comigo. Meu coração disparou. A linha entre passado e presente estava se desfazendo, e eu sabia que a verdade que eu descobriria poderia mudar tudo.
Mas a cada segundo que passava, a sensação de que estávamos sendo observados se intensificava, e um novo terror se instalava em meu coração. Algo estava se aproximando, e eu não sabia se conseguiríamos escapar.
A sala ao meu redor começou a se distorcer, como se a realidade estivesse se desvanecendo. Eu sentia uma pressão crescente na minha cabeça, como se cada uma das minhas memórias estivesse tentando se libertar ao mesmo tempo. O homem que nos trouxe até aqui estava agora ao meu lado, sua voz se misturando com os ecos do passado, recitando palavras que reverberavam em meu interior, despertando algo adormecido.
Enquanto os rostos de meus pais surgiam, vi suas expressões de medo e devoção, como se estivessem entregues a um poder maior do que eles. A cena se desenrolava diante de mim, e eu me vi como uma criança, escondido atrás da porta do sótão, ouvindo os sussurros e os cânticos que ecoavam pelo corredor. O cheiro de incenso e cera de vela invadiu minhas memórias, e a visão de um círculo desenhado no chão me fez estremecer. No centro, uma figura envolta em sombras, com olhos que pareciam brilhar como lanternas na escuridão. Era isso que o culto queria: um portal, uma conexão com algo além do nosso mundo.
— Lembre-se, Lucas! — a voz do homem penetrou em meus pensamentos, trazendo-me de volta ao presente. — O que você viu naquela noite é a chave. Você precisa confrontar isso!
Mas eu hesitava. A sensação de que algo estava se aproximando crescia a cada instante. Era como se uma força invisível estivesse nos observando, pronta para se manifestar. E Mariana, ao meu lado, parecia sentir a mesma coisa. Seus olhos estavam fixos em mim, buscando a segurança que eu não tinha certeza de poder oferecer.
— Eu não sei se consigo enfrentar isso! — gritei, meu corpo tremendo de medo. — O que se esconde naquelas memórias pode ser mais do que posso suportar!
— Você não tem escolha, Lucas! — a voz do homem se intensificou, e percebi que ele estava mais próximo agora. — O culto está vindo, e a única maneira de protegê-la é lembrar!
Em um impulso, me levantei da cadeira, a adrenalina pulsando em minhas veias. A sala começou a girar novamente, e as sombras dançavam nas paredes, criando formas distorcidas que pareciam se mover como se tivessem vida própria. Eu não podia mais fugir do que estava diante de mim. Com um grito primal, mergulhei de volta para as lembranças, tentando me lembrar de tudo o que havia sido enterrado.
Lá estava eu, uma criança assustada, observando meus pais em um ritual. O círculo no chão, os símbolos estranhos desenhados na madeira, as velas acesas ao redor. Uma voz ecoava em minha mente, um chamado que eu não conseguia ignorar. “Venha até nós, Lucas. Você é um escolhido.” A sensação de ser um peão em um jogo muito maior era esmagadora. Mas havia algo mais. Algo mais profundo que me unia àquele culto.
De repente, a figura envolta em sombras apareceu novamente, mais nítida do que antes. Eu podia ver um rosto, um semblante que reconheci vagamente. Era como se estivesse olhando para um espelho distorcido, refletindo uma parte de mim que havia sido esquecida. O medo se transformou em raiva. Eu não era uma vítima; eu era parte disso. E Mariana estava em perigo porque eu havia me afastado de quem eu realmente era.
— Eu não vou deixar isso acontecer! — gritei, a determinação tomando conta de mim. — Eu não vou permitir que eles a toquem!
O homem ao meu lado parecia satisfeito. Ele sabia que eu estava começando a entender. Mas antes que eu pudesse prosseguir, a sala tremeu. As luzes piscavam e, de repente, a porta se abriu com um estrondo, revelando figuras encapuzadas que entraram em um movimento coordenado, como se tivessem esperado por esse momento.
O culto estava ali, e eles não estavam sozinhos. Com eles, uma aura de escuridão se espalhou pela sala, e a pressão em meu peito aumentou. Olhei para Mariana, que estava paralisada de medo, e então percebi que a conexão que eles buscavam não era apenas uma questão de passado, mas uma luta de poder que corria em minhas veias.
— Lucas! — a voz de Mariana cortou o ar. — Faça algo!
As figuras avançaram em nossa direção, e eu sentia a energia pulsando ao meu redor. A batalha não era apenas física; era emocional, uma luta pela alma. E eu precisava escolher: fugiria de meu passado ou enfrentaria o que realmente sou?
Nesse instante, uma das figuras encapuzadas se destacou. Era uma mulher, com uma presença dominante que parecia absorver toda a luz ao nosso redor. Seu olhar fixo em mim era como um raio penetrante, e eu soube que ela era a líder do culto, a responsável por tudo que estava acontecendo.
— Lucas! — ela chamou, a voz ecoando como um trovão. — Você finalmente está pronto para se juntar a nós. Seu poder é inegável, e Mariana é apenas uma peça no nosso jogo. Entregue-se e abriremos o portal juntos!
Aquelas palavras me fizeram hesitar. A tentação de ceder à escuridão era forte, mas a imagem de Mariana, assustada e vulnerável, me trouxe de volta à realidade. Eu não podia deixá-la ser sacrificada em nome de um poder que eu não desejava.
— Não! — eu gritei, a voz ressoando pela sala. — Eu não sou parte de vocês! E não vou deixar que façam dela uma vítima!
A mulher sorriu, mas não era um sorriso gentil. Era o sorriso de alguém que sabia que eu estava lutando contra uma força maior. Com um gesto, ela fez com que as sombras ao nosso redor se aglomerassem, formando tendões que se estendiam em minha direção, tentando me prender.
A luta começou. Eu não apenas lutava contra eles fisicamente, mas contra as memórias que voltavam à tona. Cada passo que eu dava em direção à luz era uma batalha contra as sombras do meu passado. Lutei contra a dor que tentava me derrubar, a raiva que queria me consumir. Mariana estava ao meu lado, e sua presença era a âncora que eu precisava.
— Lute, Lucas! — ela gritou, sua voz me dando forças. — Não desista de nós!
Com cada palavra dela, eu me sentia mais forte. Eu não era apenas uma vítima. Eu era o responsável por meu destino. Com um impulso, canalizei a energia que brotava dentro de mim, enfrentando a mulher e o culto que tentavam me dominar.
As sombras se agitaram, e eu pude sentir a presença de algo muito maior, uma força que estava dentro de mim, esperando para ser liberada. O ar ao meu redor começou a vibrar, e as paredes da sala começaram a tremer. Eu não sabia o que aconteceria em seguida, mas uma coisa era certa: eu estava pronto para enfrentar o que quer que viesse.
E, naquele momento, a batalha pela minha alma e pela vida de Mariana estava apenas começando.
A energia dentro de mim explodiu como um vulcão em erupção, e as sombras que me cercavam começaram a se contorcer e gritar. Era como se eu estivesse em uma tempestade de luz e escuridão, e eu sentia que todo o meu ser estava sendo testado. O culto à minha frente hesitou, confuso diante da força que eu estava canalizando. A mulher que liderava o grupo recuou um passo, seu sorriso se transformando em uma expressão de surpresa e raiva.
— Você não pode controlar isso! — ela gritou, a voz dela cortando o ar como uma lâmina afiada.
Mas eu não estava mais ouvindo. A luz que emanava de mim parecia mais forte do que qualquer sombra que eles pudessem conjurar. Em um impulso, estendi as mãos, e uma onda de energia pura se disparou em direção a eles. O impacto foi instantâneo; as figuras encapuzadas foram lançadas para trás, como folhas ao vento, e eu pude sentir a sala tremer sob meus pés.
Mariana estava ao meu lado, e eu a vi se erguer, seus olhos brilhando com uma determinação que refletia a minha. Juntos, éramos uma força inabalável. O culto estava perdendo o controle, suas sombras se dissipando como fumaça ao vento. Mas, mesmo assim, eu sabia que a batalha não estava completamente vencida. A mulher continuava ali, determinada a não desistir.
— Isso não acaba aqui, Lucas! — ela gritou, a raiva pulsando em suas palavras. — O que você despertou em si mesmo não pode ser contido. Você pertence a nós, e nós sempre voltaremos!
Com isso, ela fez um gesto amplo, e uma fenda na realidade se abriu atrás dela, um portal giratório que pulsava com uma luz sombria. Eu sentia a energia da sala se reverter, como se as sombras ainda tivessem um último recurso. Mas antes que eu pudesse reagir, a mulher desapareceu através do portal, levando consigo uma parte da escuridão que havia se infiltrado em nossas vidas.
O culto estava em retirada, e eu sabia que tínhamos vencido uma batalha, mas a guerra ainda estava longe de ser resolvida. As sombras que uma vez dominaram a sala agora estavam se esvanecendo, mas a sensação de que um novo desafio estava a caminho persistia. Olhei para Mariana, que estava ofegante, mas com uma força renovada em seu olhar.
— Lucas, você fez isso! — ela disse, a voz cheia de admiração e alívio. — Mas o que foi aquilo? O que você realmente é?
As palavras dela ecoaram em minha mente, e eu percebi que as memórias que antes eram apenas flashes agora eram uma parte indissociável de quem eu era. Eu não apenas tinha enfrentado um culto; eu havia confrontado meu passado e, por um breve momento, me vi como o escolhido que eles diziam que eu era. Mas para quê? Para me juntar a eles ou para lutar contra suas trevas?
— Eu não sei, Mariana — respondi, minha voz trêmula. — Mas sei que isso não acabou. O que quer que tenha sido aquele portal, e o que quer que eles queiram de mim, ainda está à espreita.
Nesse momento, olhei em volta da sala, agora iluminada por uma luz suave que parecia ter substituído a escuridão. Havia marcas no chão onde o círculo havia sido desenhado, e as velas ainda queimavam, mas suas chamas eram fracas, quase como se estivessem se despedindo. As consequências da batalha deixaram marcas visíveis em nós. Eu sentia a exaustão em cada músculo do meu corpo, e as cicatrizes emocionais que agora se formavam em minha mente eram dolorosas, mas necessárias. Havia muito para processar.
— Precisamos ir — sugeri, a urgência em minha voz evidente. — Eles ainda podem voltar, e precisamos nos preparar.
Enquanto saíamos da sala, notei que as figuras encapuzadas não estavam mais lá, mas suas presenças ainda pareciam pairar no ar. A porta se fechou com um estalido, e eu sabia que tínhamos conseguido escapar, mas não sem um custo. A sombra da mulher e sua promessa de retorno ainda pairava sobre nós.
Mariana e eu fomos em silêncio, a tensão entre nós palpável. O que havia despertado dentro de mim não era apenas um poder, mas uma conexão com algo muito mais profundo que eu não entendia completamente. Eu havia sido marcado, e isso significava que a vida que conhecíamos nunca mais seria a mesma.
Ao chegarmos ao carro, uma ideia começou a brotar em minha mente. As memórias da minha infância, do culto e da figura sombria ainda estavam claras como dia. Eu precisava descobrir mais sobre eles, sobre o que realmente havia acontecido naquela noite em que meus pais se entregaram à escuridão. E Mariana, ao meu lado, parecia estar pronta para me ajudar nessa busca.
— Vamos descobrir a verdade — declarei, meu coração acelerando com a ideia de que, mesmo que o culto tivesse recuado por enquanto, havia muito mais a ser revelado. A necessidade de entender o que significava ser um “escolhido” me impulsionava.
Ela assentiu, e a determinação em seu olhar fez meu coração aquecer. Mas havia também uma sombra de preocupação. O que mais estaríamos prestes a descobrir? O mistério em torno do culto ainda não estava totalmente resolvido, e a presença daquela mulher ainda pairava em minha mente como um aviso.
Enquanto dirigíamos, percebi que a noite estava apenas começando. Havia um caminho à frente, repleto de perguntas que precisavam de respostas. Estávamos prestes a entrar em um território desconhecido, e eu sabia que, com cada passo, novas verdades e desafios nos aguardavam.
A batalha que travamos era apenas o começo. O que viria a seguir? O culto ainda existia, e suas sombras continuavam a se mover nas entrelinhas da realidade. E com cada nova descoberta, a linha entre luz e escuridão se tornava mais tênue.
Eu estava pronto para enfrentar o que quer que viesse. E, ao meu lado, Mariana seria minha aliada. Mas a pergunta que ecoava em minha mente era: até onde iríamos para desvendar a verdade? O que mais estava escondido nas sombras, aguardando para ser revelado?
Enquanto dirigíamos pela estrada deserta, o silêncio entre mim e Mariana se tornava cada vez mais pesado. A adrenalina da batalha começava a se dissipar, dando lugar a uma ansiedade crescente. Eu sabia que estávamos prestes a cruzar uma linha, e a verdade que buscávamos poderia ser mais aterrorizante do que qualquer um de nós poderia imaginar. O culto ainda estava lá fora, e a mulher que havia escapado por aquele portal era apenas um dos muitos mistérios que nos cercavam.
O caminho à frente parecia se estender infinitamente. A luz da lua refletia nas árvores, criando sombras que dançavam ao nosso redor. No entanto, uma sensação de déjà vu começou a me assolar. Era como se já tivéssemos percorrido aquele caminho antes, como se estivéssemos presos em um ciclo interminável. Eu olhei para Mariana, e seus olhos estavam cheios de dúvidas, assim como os meus. O que realmente estávamos buscando? Uma verdade ou uma armadilha?
De repente, uma estrondosa explosão de luz irrompeu à nossa frente, quase cegando-me. O carro tremeu e, por um instante, o tempo pareceu parar. Quando a luz finalmente se dissipou, me vi em um lugar familiar, mas distorcido. Era a sala onde havíamos enfrentado o culto, mas agora estava vazia, as velas queimando e o círculo mágico ainda traçado no chão.
— Lucas, o que aconteceu? — Mariana perguntou, sua voz ecoando no vazio.
— Eu… não sei — respondi, sentindo a sensação de que o tempo estava se repetindo. A mulher do culto, o portal, tudo parecia se desenrolar novamente diante de nós. Eu não conseguia entender como isso era possível. A batalha que havíamos enfrentado, as sombras que haviam se dissipado… tudo havia voltado.
Tentamos sair, mas as portas estavam trancadas, como se estivéssemos em uma prisão temporal. O desespero começou a se instalar em meu peito. Era como se fôssemos vítimas de uma armadilha elaborada pelo próprio culto, condenados a reviver essa noite sem fim. Eu olhei para Mariana, e a realidade do que estávamos enfrentando começou a me atingir. Não éramos apenas lutadores; éramos prisioneiros de um ciclo cruel.
— Lucas, precisamos encontrar uma saída! — ela exclamou, sua determinação ainda presente, mas a preocupação em seu olhar era palpável.
Mas, à medida que tentávamos encontrar uma solução, percebi que tudo o que fazíamos apenas nos levava de volta ao mesmo ponto. Cada tentativa de escapar, cada movimento que fazíamos, parecia nos prender mais profundamente nesse labirinto temporal. Eu estava começando a perder a esperança.
— O que se passa com a gente? — perguntei, a voz falhando. — Estamos presos aqui… e a luta parece nunca acabar.
— Não podemos desistir — ela insistiu, mas sua voz estava se tornando mais fraca. A verdade estava começando a se formar em minha mente como uma sombra ameaçadora. O culto havia se infiltrado em nossas vidas de uma forma que nunca imaginamos. Eu havia despertado um poder, mas a um custo que não compreendia totalmente. E agora, esse poder estava nos aprisionando.
Enquanto o tempo se desdobrava em torno de nós, percebi que o que quer que o culto quisesse, eles não estavam apenas atrás de mim; eles estavam atrás de algo muito mais profundo, algo que estava entrelaçado em nossa própria existência. E agora, eu era uma vítima do tempo, condenado a reviver este ciclo para sempre.
— Se apenas eu tivesse entendido isso antes… — murmurei, mas era tarde demais. O ciclo estava completo, e não havia como escapar.
Com isso, olhei para Mariana, sabendo que estávamos presos em um labirinto sem fim, cercados por sombras e mistérios que nunca seriam resolvidos. A batalha que começamos se tornara uma prisão, e a esperança de um futuro libertador parecia mais distante do que nunca.
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